Reflexão sobre nossa natureza interna.

natureza interna(Osvaldo Luiz Marmo – Natureza interna)

Nós nos tornamos aquilo que pensamos. Essa é uma frase que encerra uma grande verdade e, pelo menos em tese, todos concordamos com ela (natureza interna). Mas, quem é esse nós? Quem é esse nós que pensa e torna-se aquilo que pensa?

Nossa natureza psíquica é complexa, quanto a isso não há dúvida, mas não tão complexa quanto alguns pensam que ela seja. Enfim, vamos por partes. Quando falamos de nós, estamos falando do que somos, seres individualizados que tem plena consciência de si e plena consciência de que temos consciência
de termos consciência.

Talvez somente nós humanos somos conscientes de sermos conscientes. Provavelmente a maioria dos animais não é consciente de seu estado de consciência. Algumas pesquisas em psicologia animal mostram isso.

Enfim, o fato de sermos conscientes é o que faz de nós humanos e diferentes dos animais. E por que isso ocorre? A resposta não é muito simples, mas tem a
haver com o fato de sermos menos instintivos do que a maioria dos animais. Nossa consciência está menos emaranhada com os instintos e por isso nossas atividades conscienciais são mais livres e essa liberdade nos permite sentir um pouco a nós mesmos. Digo um pouco, porque a maioria de nós, funciona quase o tempo todo no piloto automático dos instintos e condicionamentos, e assim quase não sobra tempo para vivenciar a si mesmo.

Assim parece que é!

Entretanto, para melhorarmos nossa compreensão devemos procurar compreender que se vivemos nos instintos é porque eles estão dentro de nós, em algum
lugar de nossa estrutura psíquica, que também é o local em que os pensamentos ocorrem. Não vamos agora tentar investigar como os instintos toram parar na
estrutura psíquica, porque não é relevante para essa nossa reflexão, e mesmo porque para isso teríamos que desvendar toda a cadeia evolutiva de nossa espécie. Mas, o fato é que eles estão lá, junto com as informações, os aprendizados, as emoções e tudo mais que adquirimos vivenciamos durante nossas vidas. É esse acervo vivencial que nos permite pensar e refletir sobre e assuntos momentaneamente de nosso interesse.

Na busca do autoconhecimento encontramos vário modelos psicoanalíticos tentam explicar essa complexa natureza interna da nossa estrutura psíquica sando jargões que nos afastam da verdade, como, por exemplo, quando atribuem nossa maneira de ser, nossa personalidade a desdobramentos de eus internos, do tipo; “eu superior” ou inferior, um “tirano interno”, um “pai” e ou “criança interna”, etc. Essa profusão de “eus” além de não explicar nossa vida psíquica, ainda nos dá a falsa impressão de que ela depende de outros estados conscienciais além de nós mesmos.

Em verdade cada um de nós é único, um núcleo consciencial que observa a realidade externa a si, e reconhece a si mesmo como um ser consciente. Por definição, ser consciente é ser capaz de estar ciente tanto da realidade externa a si como indivíduo, como da realidade “interna” cuja natureza está em seus processos psíquicos, seus sentimentos, etc. Nesse ponto entendemos que nossa estrutura psíquica, denominada antah-karana nas tradições da Índia, atua como um ponto de convergência dos estímulos sensoriais, onde estes são analisados e processados por uma matriz ou “acervo” composto pelos resíduos memorizados de tudo que foi aprendido e vivenciado desde época imemorial. Vidas passadas evolução biológica do corpo físico, vida presente, até o momento
atual. O resultado desse processo mental é apreendido pela consciência que, diga-se de passagem, não é um epifenômeno do próprio processo, mas “algo” independente dele e a parte dele, onde e quando então surge a noção de um “eu sou”, ou ego. A interação não lúcida dos conteúdos mentais, que formam a própria estrutura psíquica faz com que reconheçamos esses conteúdos como nossa própria voz interior, quando em verdade são somente memórias ativas do passado interpretando o agora em conformidade com seus conteúdos. Um computador biológico que na Índia denominamos, com muita propriedade, de não-eu, porque não é um ser (e sim uma coisa, um algo), que deve ser diferenciado da consciência, o verdadeiro núcleo do Ser (o ser, consciência pura (cit) é feito à imagem e semelhança da Divindade).

Quando a interação entre o Ser ou Eu e o nāo-eu é lúcida, o Eu reconhece a voz interior como conteúdos apreendidos no passado e deles se utiliza sem se
deixar usar. E a conquista do livre-arbítrio.

Nós nos tornamos aquilo que pensamos!

Mas lembremos que pensar e uma atividade do não-eu, uma atividade mental que mescla conteúdos, instintos biológicos evolucionários, vivências e apreensões diversas, adquiridas no passado, que fazem emergir pulsões e outros impulsos comportamentais que, na maioria das vezes, são indevidos para a administração da nossa vida presente em nosso aqui, agora. Assim, cuidado com o que “você pensa”, pois pode não ser VOCÊ que está pensando (e de fato nunca é, porque o Eu não pensa, Somente sente, observa), mas sim é a sua mente fazendo emergir seus conteúdos e querendo conversar com você e influenciar você.

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