Os Objetivos da Vida

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OS OBJETIVOS DA VIDA

B.K.S. Iyengar

Segundo a tradição hindu, a sociedade é dividida em quatro castas ou categorias: os brahmin (sacerdotes), os ksatriya (guerreiros), os vaisya (comerciantes) e os sudra (trabalhadores). Mesmo que nos dias atuais essas categorias pareçam estar desaparecendo como formas de divisão de classes sociais, inconscientemente continuam atuantes e representam qualidades diferentes de ser que, para nós, têm o mesmo significado, seja qual for a nossa profissão ou o nosso lugar na sociedade.

COMO ESTAS CATEGORIAS SE ENCAIXAM na disciplina do Yoga?

O iniciante deve se empenhar e persistir para aprender. Essa é a qualidade do sudra. Ao se tornar um aluno mais avançado, manifesta sua aptidão ensinando, para ganhar seu sustento por meio do Yoga. Esse é o modo de pensar do comerciante ou mercador, que representa a qualidade de vaisya. Depois, ele começa a competir com seus iguais – e talvez até ensine sentindo-se orgulhoso, superior – e, assim, revela o caráter marcial do ksatriya.

No estágio final, o buscador adentra profundamente a essência do Yoga, para extrair dele o néctar da realização espiritual: esse é o fervor religioso do Yoga. Quando o indivíduo age com base nesse sentimento, sua prática de Yoga é a de um brahmin.

Essas quatro divisões ocorrem em muitas outras áreas.

Dessa forma, a vida do ser humano, considerando-se que viva cem anos, é dividida em quatro etapas de 25 anos, chamados asramas. Esses períodos são, respectivamente, brahmacharya, fase da educação geral e religiosa; garhasthya, a vida em família; vanaprastha, preparação para a renúncia às atividades familiares; e sannyasa, o afastamento das questões deste mundo e a dedicação a serviço de Deus.

Os antigos sábios também distinguiam quatro objetivos da vida, ou purusarthas, e recomendavam a busca de um dos quatro durante cada um dos quatro asramas. Esses objetivos são Dharma, a ciência das obrigações éticas, sociais e morais; Artha, a aquisição de bens seculares; Kama, os prazeres da vida; e Moksa, liberdade ou felicidade.

Sem o Dharma, ou respeito pelas obrigações sociais e morais, é impossível a evolução espiritual. Isso é aprendido no primeiro dos quatro estágios da vida.

Artha, a aquisição de bens, permite ao indivíduo livrar-se de sua dependência em relação aos outros. Não é uma questão de adquirir fortuna, mas de ganhar o suficiente para manter o corpo em boa saúde e a mente livre de preocupações.

O corpo mal alimentado pode se tornar solo propício a enfermidades e aflições, e não é um veículo apto para o desenvolvimento espiritual. Artha é o segundo período dos objetivos da vida, e é aconselhável que, nessa fase, não se adquira apenas dinheiro, mas que também se encontre um par com quem construir uma vida em família. Essa fase propícia a experiência do amor e da felicidade humana, e prepara o espírito, por meio do sentimento de fraternidade que se desenvolve a partir da amizade e da compaixão, para o contato com o amor divino. Por isso, não devemos nos furtar à responsabilidade de educar nossos filhos e de instruir os que nos são próximos.

Não há objeção ao casamento, nem ao desejo de ter filhos, assim como eles não são considerados obstáculos à experiência do amor divino, da felicidade e da união com a Alma Suprema.

Kama, o terceiro dos purusarthas, que tradicionalmente pertence ao terceiro período da vida, é o gozo dos prazeres existenciais, o qual pressupõe uma boa saúde corporal e uma mente equilibrada e harmoniosa. Visto que o corpo é o local em que habita o ser, ele deve ser tratado como o templo da alma. Nesse estágio, a pessoa aprende a se libertar dos prazeres mundanos, preparando-se para a auto-realização.

Finalmente, ao quarto estágio da vida pertence Moksa, que representa o período de libertar-se da escravidão dos prazeres do mundo. Essa libertação só pode sobrevir, segundo Patanjali, na ausência de doenças, langor, dúvidas, negligência, preguiça, ilusões, falta de vontade ou atenção, sofrimentos, desespero, agitação corporal, perturbações respiratórias e outros males. Moksa também representa libertar-se da pobreza, da ignorância e do orgulho. Nesse estágio, o indivíduo toma consciência de que o poder, o prazer, as riquezas e o conhecimento não conduzem à liberdade, e finalmente esses elementos desaparecem. Ao alcançar esse estágio, a pessoa emancipa-se e a beleza divina emana dela. Da auto-realização o indivíduo parte para se realizar em Deus. E assim conclui-se a jornada humana, que começou com a busca do mundo, chegando-se a Deus, ou Alma Universal.

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