Em Busca da Verdade

Através das épocas, muitos aspirantes de diferentes escolas filosóficas percorreram caminhos e colecionaram experiências numerosas, em busca da Verdade. Nesse sentido, vale destacar que cada caminho possui uma verdade em si – embora ao seguidor de outro caminho possa parecer arriscado e perigoso. Inclusive, podemos praticar uma mesma doutrina de diversos modos, dependendo da natureza de nossa fé.

Em contrapartida, independentemente do caminho escolhido, deve-se ter em mente que a busca da Verdade é uma jornada puramente individual.

A seguir, apresentamos uma história que ilustra essa importante característica.

Em Busca da Verdade pelo Caminho da ConfiançaEm Busca da Verdade

Os aldeões de Shankashapur hospedavam muitos sábios e peregrinos, em parte porque a estrada para o famoso templo de Sri Jagannath, em Puri, estava situada às margens de um rio e, se o rio enchesse, os peregrinos poderiam se abrigar na aldeia, já que o santuário da vila tinha espaçosas alas e quartos para acomodar os viajantes.

Babaji, o Ermitão

Um dos homens santos que ocasionalmente passava pela aldeia ou no santuário era “Baba Mãos Vazias”, assim chamado porque não carregava nada para si e nem deixava ninguém carregar nada para ele.

Bem, a questão de alguém carregar alguma coisa para ele não podia nem surgir, visto que andava sozinho, sem companhia, em suas longas jornadas, para qualquer de seus destinos.

Porém, ele era amado por todos. As pessoas freqüentemente tentavam colocar coisas em suas mãos, para seu benefício, e é claro que falhavam. Se ele precisasse de comida e a conseguisse, ficava feliz em usá-la. Mas ele não juntava nem preservava nada para a próxima vez que sentisse fome.

“Por que, Babaji, é errado pensar no dia seguinte?”, as pessoas perguntavam-lhe sempre.

De modo geral, ele sorria e se evadia da questão. Contudo, ocasionalmente, e muito raramente, respondia – talvez para aqueles que merecessem uma resposta:

“Não é uma questão de certo ou errado. Sigo um determinado caminho e não peço a ninguém para segui-lo. De acordo com minha disciplina, vivo de momento para momento. Em outras palavras, vivo em Deus e Deus é tempo. Por que deveria eu me importar com o futuro?”.

Era difícil aceitar sua filosofia; no entanto, surpreendentemente, havia algo de encantador nele.

Era talvez sua confiança natural e completa em seu modo próprio de se entregar a Deus. Atraía muitos, todavia não era atraído por ninguém ou por coisa alguma.

Jombudas, o Mercador

Jombudas foi um mercador de sucesso que, recentemente, se retirou de seus negócios mundanos, uma vez que seus filhos capazes assumiram seu fardo.

Ele adquiriu muitos ganhos materiais e, por analogia, imaginou se não poderia, da mesma maneira, engendrar algum lucro espiritual.

“Vou segui-lo”, disse ele ao eremita casualmente.

O ermitão olhou-o com curiosidade, mas falou afetuosamente:

“Se acaso você gosta de meu modo de vida, siga-o de qualquer maneira. Entretanto, não precisa me seguir fisicamente.”.

Jombudas não estava certo do que realmente tinha lhe atraído – o eremita ou seu ideal. Pensou um momento e decidiu que seria mais fácil para ele seguir o eremita fisicamente do que em seu ideal. Mas o eremita não queria ter companhia em sua jornada:

“Você não pode fazer como eu. Não está em seus hábitos, nem mesmo na sua atitude com a vida”, disse ele.

“Como você sabe? Dê-me pelo menos uma chance de provar que posso segui-lo”, persistiu Jombudas em seu propósito.

“Tudo bem”, disse o ermitão. “Prometa-me que, se não conseguir agir exatamente como eu, mesmo uma vez, você me deixará sozinho.”

Jombudas prometeu.

A Viagem

O ermitão iniciou viagem e Jombudas o acompanhou, mesmo desconhecendo o próximo destino. Apesar disso, o mercador o seguiu, mas não sem uma bolsa contendo umas poucas coisas essenciais.

Andaram por várias horas, até finalmente pararem numa estalagem. O estalajadeiro conhecia o eremita, posto que ficou muito feliz em acomodar ambos, bem como em alimentá-los bem.

Além da estalagem, estendia-se um deserto, por muitas milhas. De manhã cedo, Jombudas perguntou ao ermitão:

“Nós vamos atravessar o deserto?”.

“Sim.”.

“Mas não teremos acesso à comida. Deveríamos levar alguma?”, perguntou.

“Você sabe que não carrego nada! Deus me dará comida, se necessário”, disse o eremita.

“Mas Deus tem que fazer um milagre para lhe dar comida nesse deserto! Não há nem mesmo árvores frutíferas!”, observou Jombudas.

“Ele fará o milagre então”, disse calmamente o eremita.Em Busca da Verdade

Seu Próprio Caminho

A jornada começou ao alvorecer. E passaram-se horas até o meio dia.

Nesse ínterim, Jombudas esperava pelo milagre, até, por fim, sua esperança se dissolver:

“Você não está com fome?”, perguntou ao eremita.

“Sim, estou”, respondeu Babaji.

“Venha, então”, disse Jombudas, com um riso disfarçado, e tirou de sua bolsa dois pacotes de comida, que ele tinha coletado na estalagem, antes de partir.

Sentaram-se perto do lago e comeram. Então, com uma risada triunfante, Jombudas disse:

“Bem, vale a pena ser prudente! Eu sabia que não poderia conseguir nada aqui. E todo tempo estava aguardando para ver o milagre, que esperava que Deus fizesse para você. Bem… Ele não se importou!”.

O eremita fixou o olhar em Jombudas e disse:

“Ele se importou! O pacote que você me entregou foi o milagre de Deus para mim. Para você foi uma decepção. Carregando-o consigo, você não conseguiu fazer como eu. Espero que se lembre da condição.

Jombudas estava aturdido.

Siga seu caminho e deixe-me seguir o meu”, disse o eremita, enquanto prosseguia deixando Jombudas para trás.

Histórias da Índia Antiga

Adaptado pela Equipe IYTA

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