Vazio existencial numa era de excessos

Água, água por todo lado e nenhuma gota para beber – O Vazio existencial numa era de excessos

marinheiro com vazio existencial

O vazio existencial é um marco de nossa era. Penso que o homem moderno é como o “Velho Marinheiro”, descrito pelo autor Samuel Taylor Coleridge: cercado por oceanos de água, mas morrendo de sede. Ou seja: há tanta plenitude daquilo que ele mais necessita, mas de uma forma totalmente inacessível e inadequada a ele.

“Água, água por todos os lados e nenhuma gota para beber” é uma metáfora poética para a atual civilização global. Afinal, há uma abundância, ou melhor, uma superabundância de tudo o que o homem possa necessitar, desejar e querer!

Alimento para o corpo

comida para o corpo

Por exemplo: há uma enorme quantidade de alimentos ao extremo, de modo tal que os fazendeiros são até pagos para não plantarem seus grãos, e, enquanto isso, há milhões morrendo de fome! Pior ainda, no mais rico país do mundo, os Estados Unidos da América, pessoas são “famintoalimentadas”, por sua adesão aos “fastfoods”, uma alimentação rápida que parece “boa” e “gostosa” e que “parece ser alimento”, mas, na realidade, não é realmente nutritiva. Ademais, frutas e vegetais nos supermercados são “fotogenicamente perfeitos”, mas só isso. Comendo-os é como se comêssemos o papel no qual são embalados. Isso porque são tão quimicamente trabalhadas, hidratadas e preservadas; e tão artificialmente armazenadas e transportadas, que resta pouco do sabor natural, sem falar dos nutrientes. Outros dados que corroboram a artificialidade do processamento alimentício são:

  • Frutas, colhidas verdes e amadurecidas quimicamente;
  • Vegetais congelados por muito tempo e apodrecendo tão logo saem do estabelecimento;
  • Alimentos enlatados ou embalados, que prometem em seu conteúdo “vitaminas e minerais” numa longa lista, mas na maior parte das vezes é tudo enganação.

Mesmo lojas de “alimentos naturais” nos levam a pensar: “parece bom”, “deve ser gostoso”, “é bom”. Não era esse o estado lastimoso do nosso marinheiro? O pobre coitado, à deriva no vasto oceano, cercado de água que parece tão boa, mas que infelizmente não serve para beber! De modo semelhante, precisamos lutar mais que nossos ancestrais nas selvas para encontrar alimentos de verdade.

Alimento para a alma

vazio existencial

Ademais, a mídia faz tudo parecer “tão bom” mas, na realidade, a assim chamada “civilização” está faminta do espirito de humanidade. Precisamos trabalhar muito e durante muito tempo para acharmos o que é real. O vazio existencial é como uma grande “fome espiritual”.

Esta metáfora pode se aplicar a praticamente todos os aspectos da vida moderna. Até, ou mesmo especialmente, ao yoga. Yoga se tornou onipresente no mundo nos séculos XX e XXI. Apareceu regularmente em revistas internacionais como “Time” e “Newsweek”. Encontramos notícias de yoga em jornais e programas de “bate-papo”, cinemas exibem heróis e heroínas em postura de yoga, e há uma escola em cada esquina. Contudo, onde podemos encontrar o “Yoga Real”?

Existe a mesma dificuldade para encontrar um autêntico professor. Achar o yoga é o mesmo que encontrar uma maçã fresquinha em uma árvore, ou uma cenoura brotando em um solo sem aditivos. A mentalidade do “fastfood” também atingiu o yoga. Tudo parece bom, soa bem, mas não tem substância!

Talvez o divino ainda insista nos antigos moldes em que “o espirito da verdade” seja reservado para os “Adhikaran”, ou Pessoas Especiais. Os Rishis, em sua sabedoria, entendiam que as verdades espirituais não são destinadas ao consumo de massas, e talvez seja por isso que eles “salgam” a água, retendo a verdadeira “essência do espírito” somente àqueles que praticam Viveka – discernimento. Pois que a essência é apenas para aqueles que tem capacidade de separar a água do leite e o real do irreal.

Por Yogacharini Meenakshe Devi Bhavanani – News Amma’s editorial de Abril de Yoga Life (Adaptado por equipe IYTA)

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