O Yoga Simplifica a Psicologia
Por: Sally Janssen (Presidente da International Yoga Teachers Association com sede em Sidney – Austrália – 1973)
Explorar os mistérios da mente humana será sempre um desafio. Antes que o mundo ocidental inventasse a palavra “psicologia”, os yoguis e filósofos do Oriente já estudavam e analisavam a mente e a psique do indivíduo, numa tentativa de descobrir como nós funcionamos, como age nosso processo cerebral e como controlar e utilizar de maneira mais vantajosa os maravilhosos poderes intelectuais de que somos dotados. Eles procuraram meios de dirigir estes talentos sob o controle da alma. Afinal, o que une e o que distingue o Yoga e a Psicologia?
Yoga e Psicologia: Os Três aspectos da Mente
A psicologia yogui aceita três aspectos da mente: o consciente, o subconsciente e o superconsciente.
As mentes consciente e subconsciente funcionam, obviamente, nas experiências mundanas e nas aventuras da personalidade, enquanto a mente superconsciente – que não é relativa à personalidade mas à alma – faz sentir sua presença nos momentos de crise, inspiração e progresso da consciência, além de funcionar como intuição.
Portanto, não podemos fazer uso consciente dos poderes da superconsciência até que tenhamos integrado e associado harmoniosamente os níveis consciente e subconsciente.
Yoga como Ferramenta Psicológica
“O homem que fez amigos consigo mesmo” poderia ser um maravilhoso título de livro, mas é o que cada aluno de Yoga deve fazer para chegar a bons termos com estes dois aspectos diferentes e freqüentemente conflitantes de sua mente (consciente e subconsciente), antes de ser bem sucedido na meditação e harmonização consciente de seu processo cerebral.
Por esta razão, o aluno de Yoga:
- Treina seu corpo – que está sob controle da mente subconsciente – e impõe sua vontade aos músculos e sentidos;
- Treina e controla seus apetites através da própria nutrição e do jejum;
- Aprende a fazer o uso consciente do controle de sua respiração;
- Treina sua memória – que é uma atividade subconsciente – e aprende a ultrapassar o abismo entre os estados de consciência, de sono e de vigília, por meio da recordação dos sonhos, tornando, dessa forma, o subconsciente seu servo prazeroso, através de controle ameno mas firme.
Yoga e Psicologia: Treino Psicológico do Yoga
Ademais, o que seria melhor do que o sistema de treino psicológico oferecido pelo Yoga:
- Total aceitação do que você é, durante o relaxamento sem esforço – YOGA NIDRA.
- Desejo de auto-aperfeiçoamento através de práticas que envolvem a autodisciplina – SADHANA.
- Desejo de trabalhar com ideais elevados – o idealista prático com as aspirações do SADHAKA.
- Desejo de aceitar privações e de entender a justiça divina – KARMA.
- Desenvolvimento de senso de humor – capaz também de rir de si mesmo.
- Coragem de rever e aprender através de nossos erros – desenvolvimento da sabedoria – JNANA.
- Discriminação do certo e do errado – VIVEKA.
- Nutrição mental – discriminação do material de leitura, alimentando a mente através de discursos, discussões.
- Dar assistência através de nosso conhecimento de VIDYA e desejar aceitar ajuda dos outros.
- Aceitar o equilíbrio como o indicador de nosso estado de consciência e controlar o desenvolvimento psicológico através de controle duplo – extrovertido e introvertido – positivo e negativo – controle de PINGALA e IDA.
- Concentração – exercícios mentais para fortalecer e equilibrar a mente -DHARANA.
- Autosugestão- usando JAPA.
- Entender todos os estados de espirito – relaxamento, concentração, reflexo, meditação e contemplação.
- Higiene mental – esvaziar a mente permitindo que todas as atividades subconscientes aflorem à consciência antes de dormir, previnindo assim a necessidade do divã psiquiátrico.
- Interpretações dos sonhos e recordações.
- Uso correto da imaginação – mágica mental – a vocação da mente para a arte.
- Atitude mental correta ou filosófica – aceitando KARMA, DHARMA, etc.
- Revigoração espiritual e inspiração para o pensamento criativo – em meditação -DHYANA.
- Reverenciar a natureza – estudar o Devic Kingdom (reinado Dévico) e aprender a amar toda vida natural.
Relação Corpo-Mente
O sistema yogui dá tanto resultado quanto um treinamento psicológico porque estabelece uma relação constante entre o corpo e a mente, considerando que são interrelacionados. O Yoga vai além da simples máxima “mente sã em corpo são” e reconhece que humores e estados mentais podem ser alterados por disciplinas físicas, tanto quanto a saúde física pode ser afetada por estados mentais de todas as espécies.
Vale mencionar que o sistema dos ãsanas clássicos contém a chave para muitos dos controles de personalidade e caráter pelos os quais estamos trabalhando, como posso demonstrar a seguir:
- Força física = Força de espírito e força de vontade.
- Flexibilidade do corpo = Elasticidade da mente.
Estes são os dois princípios básicos para o desenvolvimento geral do corpo e do espírito (…) – os princípios Hatha.
Psicologia dos Ãsanas do Yoga
A postura revela a atitude do ser para com a vida. Abaixo, há alguns exemplos:
- Paschimottanãsana – para a juventude – para a mobilidade – flexão – para a frente.
- Nitambãsana – para a habilidade de produzir flexão lateral.
- Matsyendrãsana – para a justiça – ver à direita e à esquerda.
- Chakrasana – para a generosidade.
- Tolongalãsana – para a segurança – postura extrema – Garbhasana – feto.
- Virasana – para a coragem/orgulho.
- Hanumanãsana – separações – para liberdade – de movimento – ilimitado.
- Vrikãsana – árvore – para a confiança.
- Savãsana – liberdade.
- Sirshãsana – postura sobre a cabeça – auto-ensinamento – desafiando a gravidade – entrando no mundo paradisíaco, não ser puxado para baixo, para o material – poder espiritual.
- Padmãsana – símbolo da passividade, pernas presas, nenhuma motivação, ausência de desejo.
- Yoga Mudra – A promessa, a dedicação, o símbolo da devoção para o ideal.
- Valor do Surya Namaskara – e do número 12.
Autoconhecimento e Disciplina Psicológica através do Yoga
Não há pois agora coisa mais fascinante para nossas mentes que o estudo de nós mesmos. Não estamos nunca cansados de aprender ou pesquisar mais sobre nós, sobre nossas falhas de caráter e virtudes; nem de desejar entender as várias forças em ação dentro de nossa psique, e fora, como a astrologia, por exemplo.
Entretanto, a mais simples forma de disciplina psicológica e autocompreensão nos é oferecida pelos dois degraus do sistema de Ashtanga Yoga: Yamas e Niyamas. Estes dois guias da Ética do Yoga são tudo que realmente precisamos para levar uma vida criativa e feliz, livre de medos e repressões, equilibrada, harmoniosa e bonita, em paz conosco, com nossos companheiros e em paz com a própria vida….
Este conhecimento, como disse Buddha, ensina-nos somente a “Parar de fazer o Mal, aprender a fazer o Bem”.
Yoga e Psicologia: Yamas, Nyamas e Samadhi
A psicologia do homem equilibra-se entre os pares de opostos, e as restrições e a disciplina tão claramente encontradas nos princípios de yamas/ niyamas tornam o caminho claro.
O samadhi simboliza a finalidade e o propósito da vida. Procuramos através da obediência da Lei tornarmo-nos perfeitos em corpo e espírito, a tal ponto que este desenvolvimento e refinamento tornem-se passaportes para a conscientização de Deus, independentemente da crença religiosa. Temos a oportunidade de descobrir através de experiências conscientes, a realização de verdades em que acreditamos. Temos finalmente uma oportunidade de conhecimento direto, uma linha pessoal ou comunicação com o universal.
A Importância da Autodisciplina
O yogui sabe que a autodisciplina – fornece a energia para ascender, e é somente através da autodisciplina que ele encontra sua liberdade. Nada que valha a pena é desenvolvido ou descoberto através da rejeição da disciplina.
Ele aceita que não haverá fim para esta autodisciplina pois que é a Lei pela qual crescemos e não pode haver fim para a medida de nosso crescimento espiritual.
Do principio ao fim de seus dias, o homem estará sempre fazendo algum esforço no sentido de erradicar as más tendências e procurar cultivar as qualidades que lhe permitirão evoluir inteligentemente. Os Yamas/Niyamas simplificam este dever.
Yoga x Psicologia?
Ao invés de perguntar porque o homem pensa da maneira que o faz e ao invés de perder muito tempo explorando as regiões da mente onde encontramos a razão para padrões de comportamento presentes, o yogui gasta seu tempo mais criativamente. Ele aceita que o homem é confuso, complexo e multifacetado, e que procura aquilo que é certo e errado. O yogui também admite o fato de que o homem está sempre inconscientemente à procura de uma autoridade que o oriente para fora desta confusão. Todo homem deseja o suporte de uma ideologia sobre a qual inclinar-se em sua ascensão. Não importa em que consiste a ideologia enquanto ele estiver indo na direção certa – e ascendendo.
Ele não é ensinado a dar explicações sobre suas idiossincrasias, ou a procurar muito profundamente pela causa de seus complexos, que podem ser considerados em alguns casos uma perda de tempo, mas a fazer uso de sua encarnação, a presente, com a capacidade total de esforço e sabedoria.
Quando precisamos relembrar as origens de nossos complexos, precisamos de grande capacidade de interiorização. Porém, algumas vezes, essas origens estão distantes, numa vida anterior, mas, mesmo assim, geram problemas e influenciam nossas atitudes do presente e nosso comportamento. Entretanto, não deveríamos usar isto como desculpa, mas sim para maior compreensão e inspiração de como caminhar para um futuro mais feliz e mais livre, tendo resolvido nossas dívidas com o destino e finalmente tornando-nos seres mais generosos, livres, responsáveis, maduros dentro de nós mesmos e seguros dentro da Lei.